quarta-feira, 7 de maio de 2008

Viver não dói!


Definitivo, como tudo o que é simples a nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram. Porque sofremos tanto por amor?·
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão fantástica, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos porquê?·Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhámos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque o nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela as nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.Sofremos não porque nossa equipa perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro nos está sendo confiscado, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida, está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, nos faz perder também a felicidade
A dor é inevitável O sofrimento é opcional

Carlos Drummond de Andrade

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